A casa de férias em Ofir, é um projeto do arquiteto Fernando Távora para o Dr. Fernando Ribeiro da Silva, nome pela qual a casa também é conhecida. A casa encontra-se no Pinhal de Ofir, situada entre o Rio Cávado e o Mar. Segundo Tostões (2015,) é um projeto que propõe um programa familiar que se implanta “calorosamente agarrada ao terreno, propondo uma simplicidade orgânica na exploração da tranquilidade do espaço, centrada na relação da construção/paisagem, na articulação de inflexões subtis na sua geometria, na combinação de novas e tradicionais tecnologias e materiais, demonstrando um delicado poder de síntese e de harmonia” (p. 464). Este edifício faz atualmente parte do “Roteiro Arquitectura Modernista liderado pela Câmara Municipal de Esposende revelando o seu interesse em manter a memória deste espaço viva. A Casa é projetada por Távora em 1956, tendo sido concluída em 1958. Numa análise formal e funcional, percebemos que estamos perante uma planta tripartida, onde cada corpo assume uma funcionalidade bem definida: zona social, zona de serviço e zona privada. Em termos formais, ressalta a o ângulo obtuso formado entre o corpo da zona social e a zona privada, abrindo o interior para o exterior, a que Távora chamou de pátio. Este é envolvido curvatura do terreno e pela linha de pinheiro. A fachada a norte é marcada pela imponente chaminé amarela, e pela recatada zona de entrar. Na fachada poente, destacam-se os contidos vãos, que protegem a casa dos ventos castigadores. Em contrapartida, as fachadas a sul e a nascente são marcadas pelas janelas que rasgão os panos de parede, premiando a relação entre o interior e o exterior. Os elementos estruturais e construtivos, assumem em todo o projeto uma plasticidade e materialidade que confere ao espaço uma representação da cultura tradicional conectada com a materialidade moderna. Do ponto de vista do interior, a casa ficou conhecida pela exploração do central living-room [sala comum], demostrando a influência do modernismo nos hábitos domésticos dos portugueses. A sala comum é composta por três áreas: zona de comer, zona de estar e zona da lareira. Este espaço encontra-se a uma cota inferior, sendo que a zona da lareira ocupa um canto especial, mais recatado, e onde a cota de pavimento volta a subir. Este recanto da lareira remete para a importância do conforto da casa tradicional, onde o fogo é o ponto focal do espaço. Assim, sala comum transmite um ambiente aberto e diversificado, ao mesmo tempo, e de forma a conferir privacidade ao espaço o arquiteto desenha panos de paredes soltos, ortogonais aos exteriores, e que não vão até ao teto, servindo de divisória dentro do espaço, um deles situa-se à entrada da casa e outro junto a zona da lareira. O corpo dedicado à zona privada é composto pele corredor, quartos, casas de banho e arrumos. Neste espaço encontram-se cinco quartos, sendo quatro duplos e um de casal, e todos possuem armários embutidos e mesa de apoio. Existem duas casas de banho, presumivelmente pelo projeto, completas. O corredor é marcado por um grande armário. O volume correspondente à zona de serviço é composto, maioritariamente, por 3 funções. Zona de copa com passa-pratos para a cozinha. Zona privada da criada, com um quarto e uma casa de banho completa. E já no exterior da casa, o espaço dedicado à lavandaria. Pode-se afirmar que este foi um projeto global onde Távora foi mais que arquiteto, foi também o designer, detalhando caixilharias armários, mesas, cadeiras e alguns candeeiros. Definindo materiais e acabamentos. |
![]() Vista da entrada do lote. |
![]() Planta casa de Ofir. Tela final. |
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![]() Central living-room. |
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![]() Mesa de apoio e cadeiras, desenhadas por Távora. |
R. Padre Manual Sá Pereira
Fão
41.518803, -8.783268
Fernando Távora (1923-2005) era à data da deste projeto um importante arquiteto português. Formou-se em Arquitetura em 1952, pela Escola Superior de Belas Artes do Porto, na mesma escola que foi docente anos mais tarde. O seu percurso ficou marcado pela participação no CIAM, entre 1951-1959, que lhe permitiu desenvolver um pensamento critico na busca de um movimento moderno português assente no contexto local. No seguimento da sua participação no I Congresso Nacional de Arquitectura (1948), integra em 1955 a equipa responsável pelo Inquérito à Arquitetura Popular em Portugal na região do Minho. |
![]() Fernando Távora (1923-2005). |
“Casa em Ofir”, in Revista Arquitectura, 3ª série, n.º 59, Outubro de 1957, p. 13.
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Modelling and Processing Pipeline Software
Investigação
Projeto elaborado na sequência da investigação de doutoramento em Design intitulada de “Da interpretação do projeto
à realidade virtual para a preservação do design de interiores domésticos portugueses” realizado pela
doutoranda
Liliana Neves, sob a orientação científica da Professora Doutora Fátima Pombo, Professora Associada com Agregação do
Departamento de Comunicação e Arte da Universidade de Aveiro e coorientação científica do Professor Doutor Pedro
Beça, Professor Auxiliar do Departamento de Comunicação e Arte da Universidade de Aveiro.
Este trabalho foi parcialmente financiado por fundos nacionais através da FCT – Fundação para a Ciência e a Tecnologia, I.P., no âmbito da bolsa de doutoramento SFRH/BD/146842/2019